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Heliana Kátia Tavares Campos

Quem não tem saneamento, tem pressa


Engenheira civil e sanitarista, Heliana Kátia Tavares Campos é Mestre em Desenvolvimento Sustentável. Além das atuações marcantes à frente dos órgãos de manejo de resíduos sólidos em Belo Horizonte e Brasília, Kátia idealizou o Fórum Nacional Lixo e Cidadania e a campanha Criança no Lixo Nunca Mais, quando trabalhou no Unicef. Atualmente é presidente da ABES/DF e quer mais urgência na universalização do saneamento básico no país.

 

  • Fale um pouco sobre sua trajetória profissional

 

Desde o início de minha vida acadêmica, na Escola de Engenharia da UFMG, sempre me envolvi com as questões sociais. Logo que entrei, comecei a dar aulas de leitura de plantas arquitetônicas para pedreiros estudando para se tornarem mestres de obra. Era um curso intensivo de preparação de mão de obra, organizado por alunos do curso de Engenharia, em que utilizávamos o método Paulo Freire. Foi uma experiência maravilhosa, que aconteceu entre 1975 e 1980.


Depois que me formei, fui trabalhar no Centro Tecnológico de Minas Gerais, o Cetec. Trabalhava com abastecimento de água em pequenas comunidades. Em seguida, comecei a trabalhar com resíduos sólidos e inclusão dos catadores. Depois, criei a minha empresa, a Ambiental, para prestar consultoria e desenvolver projetos para municípios. Em 1993, assumi o Serviço de Limpeza Urbana BH, depois fui trabalhar com consultoria para organismos como o BID, o Unicef.


Um trabalho muito marcante foi a campanha Criança no lixo nunca mais e a criação do Fórum Lixo e Cidadania, que chamaram a atenção para a presença de trabalho infantil no lixo, uma situação que não era considerada no Brasil e acabou influenciando a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que passou a reconhecer o trabalho infantil no lixo internacionalmente.  Depois disso, trabalhei no SLU DF e atualmente estou vivendo uma espécie de período sabático, mais ligada à família, descansando um pouco.

 

  • Qual desses trabalhos todos você considera o mais relevante e por quê?


O fechamento do lixão no Distrito Federal foi uma experiência extremamente marcante, principalmente pela inclusão dos catadores e pela articulação de todo o governo para conseguir esse objetivo. O trabalho no Unicef também trouxe muita alegria, pelo alerta sobre o trabalho infantil no lixo. E em BH também foi significativo, pela grande participação da sociedade nos diversos projetos que implantamos.

 

  • Como você vê o papel da ABES hoje? 

 

Julgo que é um trabalho que pode ajudar muito os governos federal, estaduais e municipais na busca da melhor compreensão e atuação na questão do saneamento básico. Ás vezes, acho que a ABES poderia ser mais proativa na defesa dos interesses que buscam a universalização do saneamento, na proposição de políticas e  metodologias. Mas é inegável que ela tem participado com bastante sucesso no ponto de vista técnico.


Já atingimos um bom número de profissionais do setor, mas ainda estamos distantes dos usuários, principalmente daqueles que estão com déficit no serviço de saneamento. Há uma lacuna e é preciso envolver mais as comunidades que ainda não conseguiram ter os serviços de saneamento.


Acho que os congressos da ABES são excelentes momentos de encontro entre profissionais de diversas regiões do Brasil, com uma profícua troca de experiências e uma disseminação importantíssima de conhecimento técnico sobre saneamento básico. Nos congressos de Belo Horizonte, este ano, e no de Brasília, em 2025, estaremos vivenciando uma nova fase na política nacional com o Governo Lula e minha expectativa é que vai ser muito importante a participação da ABES, com mais participação social, com a reabertura dos conselhos das Cidades e do Meio ambiente. Temos muito a contribuir, a trocar com outros parceiros e acredito que será um momento de ressurgimento de muitas atividades na ABES.

 

  • Qual sua visão sobre a luta pela universalização do saneamento básico no Governo Lula?


Acho que temos atuado pouco na interlocução e na defesa de tecnologias que atendam as populações que não têm saneamento básico. Creio que o Governo Lula vai se interessar em ampliar essa cobertura mais rapidamente, porque é escandalosa a proposta de universalizar só em 2030. É preciso incluir nas discussões aqueles que vivem nessas áreas sem saneamento para incorporar o sentido de urgência. Se você não tem água em casa, certamente vai propor que o atendimento desse serviço seja mais rápido e não para daqui a dez anos. É uma situação dramática.

 

  • O que você gosta de fazer fora do trabalho?


Gosto cuidar de jardim, de plantar novas mudas. E faço parte de dois grupos de leitura, em que lemos um livro por mês em cada grupo. Ultimamente temos direcionado nossas leituras,  nos dois grupos,  para a literatura que trata do racismo. Lemos os três volumes de Escravidão, do Laurentino Gomes, o Viva o povo brasileiro, do João Ubaldo Ribeiro, Defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Acho muito rica essa discussão para compreendermos que as desigualdades não são só econômicas, tem também o preconceito.


Ao mesmo tempo, estamos lendo livros que dizem respeito aos males modernos da sociedade, como Engenheiros do caos, de Giuliano da Empoli, sobre as fake News. Também lemos o Torto arado, do Itamar Vieira Junior, O avesso da pele, do Jéferson Tenório e O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, que conta as diversas tentativas de rebelião de negros, indígenas e caboclos ao longo da história brasileira, e como foram massacradas pela polícia. 

 

  •  Quais livros você indicaria como obras que precisam ser lidas?


Considero três livros essenciais: Viva o povo brasileiro, do João Ubaldo, Grande Sertão Veredas, do Guimarães Rosa e o Povo Brasileiro, do Darcy Ribeiro.

 

 

 

 

Heliana Kátia Tavares Campos
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